terça-feira, agosto 22, 2006

Um diálogo entre blógues

O CARÍSSIMO AMIGO Marcelo Cid, no seu blógue, coloca post deveras interessante sobre um argumento sonhado de uma história com o anatomista Falópio (1523-1562), aquele da trompa homônima. À parte os imediatos e também interessantíssimos comentários que se possam tecer (e já devidamente feitos pessoalmente) sobre os topos dos livros sonhados, das bibliotecas de sonhos, dos livros não-escritos, escritura labirintina e borgeana, etc, sobre a incrível potencialidade do argumento como novela, roteiro cinematográfico, et caterva, e sobre as ilações com o excelente Bufo & Spallanzani, do Rubem Fonseca (não vi o filme, mas já digo que o livro está entre meus preferidos, mais um crédito à minha excelentíssima professora de português do colégio, a mestra e mentora Cláudia Lukianchuki, provando que se lia, e bem, nas escolas d’antanho), de tema semelhante, o que quero comentar agora, espero que inaugurando uma forma de diálogo com o amigo e autor, são as curiosas peculiaridades da divisão temporal ("cronomástica"???) adotada por ele naquele post.

Sim, Renascimento e período Barroco. É natural, como ensinam as escolas, que o primeiro seja, de facto e de jure, categoria temporal precisa para definir o tempo histórico – credencial conquistada pelo muito de ruptura, inovação, particularidade e influência que o período trouxe ao gênero humano em todos os campos (história, sociedade, ciência, arte, filosofia, e o que mais se possa pensar). Deixemo-lo, então, de lado, com o Falópio que aí cabe muito bem. Agora, é o segundo que me parece curioso. Sim, porque o termo "barroco" não implica, necessariamente, uma constelação de idéias tão vasta e precisa como o Renascimento. Claro, há que se falar em barroco na música, na pintura, na arquitetura, mas não é próprio falar numa ciência barroca (seria isso um oxímoro?), numa filosofia barroca, numa sociedade barroca e congêneres.

Afinal, no próprio domínio da arte, que lhe é próprio, o Barroco se presta a subdivisões e fases – maneirismo, rococó – que já demonstram (quod erat demonstrandum) que seu poder sobre o tempo histórico é menos fulcral, menos coercivo que o do Renascimento. Daí que se possa referir, ao mesmo recorte cronológico, com maior ou menor ênfase em períodos específicos, com uma pluralidade de termos, o que abarca o Século das Luzes, o Iluminismo, a Idade Moderna, o período de Luís XIV, o Antigo Regime, o Oitocentos, num campo mais filosófico-político, ou precisar aqui e acolá, seus muitos notáveis nas artes e nas ciências: Canova, Bach, Vesálio, Gongora, Watteau e Bernini seriam, então, apenas alguns, numa vasta lista que se presta a nomear os sacolejantes anos dos séculos XVII e XVIII.

Claro que não quero, com isso, panfletar contra a escolha do grande Marcelo Cid (já me apresso a explicar, antes que seja mal interpretado por leitor menos hábil), acertada como todas as outras, mas apenas discorrer sobre as variadas facetas desse período que acho um dos mais fascinantes da história ocidental. Claro também que isso abre portas para (espero que logo mais) tratar de uma das mais interessantes personalidades e obras do período: Giacomo Girolamo Casanova, o veneziano, cuja obra (sua vida) é dos relatos mais ricos, coloridos, interessantes, variados e incríveis de que se tem notícia.

Está começado o diálogo, eia pois. Que continue!

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