sexta-feira, setembro 22, 2006

Budapest by Night

QUE SE ACALMEM os mais afoitos! Ao contrário do que o título deste post possa fazer pensar, não se trata dos recônditos do bas-fond magiar, mas sim dos cartões postais da capital húngara sob feérica iluminação noturna!


1. Castelo Real: vista do pátio noroeste, com a fonte do Rei Matias Corvino, à direita, e o domo, ao centro.


2. Ponte Széchenyi (Chain Bridge). À distância, vêem-se a cúpula e as torres da Basílica de Santo Estêvão.


3. Bastião dos Pescadores. Projetado por Frigyes Schulek, em 1895, serve como mirante do alto da Cidade Velha, na região do Palácio Real. As estruturas cônicas fazem referência às tendas dos nômades magiares.


4. Palácio Real: Porta dos Leões. Os leões foram esculpidos por János Fadrusz, em 1901.


5. Igreja Matias. a Igreja de Nossa Senhora foi construída nesse local da Cidade Velha, entre os séculos XIII e XV, mas foi no reinado de Matias Corvino (1458-1490) que ela foi expandida e adornada. Muitos detalhes originais se perderam quando os turcos otomanos a transformaram em sua Grande Mesquita, em 1541. Durante a liberação de Buda, no século XVII, ela foi quase que inteiramente destruída. Posteriormente, frades franciscanos a reconstruíram em estilo barroco. A igreja foi novamente destruída, em 1723, e posteriormente reconstruída por Frigyes Schulek, em 1873-96, em estilo neogótico, aqui presente.

Um pequeno interlúdio

DEIXANDO UM POUCO de lado as notícias e imagens magiares, leio no blógue de Pierre Assouline (v. aí nos links, ao lado) novas sobre a estréia do filme baseado no livro O Perfume, de Patrick Süsskind. Notícia a se comemorar, sem dúvida! Os mais jovens podem não se lembrar, mas o romance causou espécie em seu lançamento, na segunda metade dos anos 80. De fato, o livro é genial! Como bem disse Assouline, o sucesso foi excepcional (15 milhões de exemplares vendidos, vertido para quarenta e duas línguas), "ce qui est exceptionnel pour un roman de cette facture et de cette ambition". Nesses tristes tempos em que as livrarias só parecem soltar os Dan Browns e Paulos Coelhos aos borbotões, que saudades de livros assim!

O Perfume [Das Parfum, Alemanha, 2006]. Produção de Bernard Eichinger. Direção de Tom Tykwer. Elenco: Ben Whishaw, Dustin Hoffmann, Alan Rickman (yes!), Sara Forestier e John Hurt (fazendo a narração, yes!).

quinta-feira, setembro 21, 2006

Mais notícias de Budapeste

A HUNGRIA COMEÇOU a semana tomada pela incerteza política, com manifestantes pedindo a cabeça do Primeiro-Ministro, Ferenc Gyurcsány, após a imprensa ter vazado uma gravação de reunião interna de seu Partido Socialista (MSzP), ocorrida em maio, na qual o premiê, valendo-se dos mais escabrosos palavrões do idioma magiar, acusa seus correligionários de enganar o povo com "mentiras ditas noite e dia". De lá para cá, skinheads mal-encarados atacaram a sede da TV estatal, incendiaram carros, lutaram contra a polícia de choque e o saldo, até o momento, é de duzentas pessoas presas e outras tantas feridas (em sua maioria, policiais).

De qualquer modo, no fim-de-semana, a capital vivia dias idílicos, de céu azul e centenas de turistas no centro velho. Sei que vou desapontar o caríssimo Luís, mas, como tenho queridas esposa e filha para criar, deixei de lado os jatos de água e as bombas de gás lacrimogêneo e, agruras políticas à parte, vai aqui meu registro fotográfico da bela Budapeste:

1. As águas do Danúbio cortam a cidade em duas metades. Nesta foto, o Palácio Real dos Habsburgos, reconstruído após a Segunda Guerra Mundial, domina a paisagem do topo de sua colina, em Buda.

2. A ponte Erzsébet (Sissi), vista do mirante da colina Géllert. Do outro lado, Peste.

3. Ponte da Liberdade (Szabadság Híd), originalmente Francisco José, inaugurada em 1899.


4. O celebrado hotel Géllert, com suas cúpulas de estilo otomano.

Aparentemente, não consigo carregar mais imagens neste único post. Colocarei mais em breve!

sexta-feira, setembro 15, 2006

Imagens de Budapeste

1. Praça dos Heróis, importante monumento cívico à história magiar, localizado em Peste.



2. Alkotás (pronuncia-se "Olkotásh") Point, moderno prédio de escritórios onde está instalada a Embaixada do Brasil em Budapeste, no número 50 da Alkotás útca (pronuncia-se "útso", rua).


3. Meu hotel, o simpático Gold Hotel, no número 14 da Hegyalja útca, em Buda.


4. Vista da janela do meu quarto, para a Berényi út.


5. Arquitetura imperial: esse prédio, também na Hegyalja, traz a data de 1909 na fachada. Ou seja, construído ainda no reinado do Francisco José, do Império Austro-Húngaro.

Por enquanto é só, pessoal! Neste fim-de-semana, vou à caça das fotos verdadeiramente espetaculares!

quarta-feira, setembro 13, 2006

Notícias da Panônia

DESDE O ÚLTIMO DOMINGO, por felizes razões profissionais, estou aqui em Budapeste, capital da Hungria, região que integrava a antiga Panônia dos romanos. Por enquanto, as exigências do trabalho impediram que me aventurasse na região central, mais antiga e interessante da cidade, mas prometo que, neste fim-de-semana, volto de lá com fotos. Até então, meu roteiro se resumiu a uma caminhadinha de quinze minutos entre meu hotel e a Embaixada do Brasil.

Para rechear o post, porém, vou iluminando quem se interessar com dados desse país interessantíssimo que é a pequena e brava Hungria. No coração da Europa Central, cercados de povos eslavos, os húngaros são grupo à parte, descendente dos magiares que aqui se estabeleceram por volta do ano 896 d.C., liderados pelo chefe tribal Árpád, fundador de dinastia que persistiu até 1301. Não são, portanto, eslavos, mas "fino-úgricos". Os fino-úgricos, conforme atestam pesquisas bio-históricas e lingüísticas, originaram-se para lá dos Montes Urais, na Ásia Central, por volta do segundo milênio antes de Cristo. Entre 1000 e 500 a.C., os magiares se separaram da família, que já havia individualizado o povo que, mais tarde, daria origem ao idioma finlandês, e passaram a tratar das próprias migrações. Assim, sucessivamente, vieram para o lado de "cá" dos Urais (de V a.C. a IV d.C.), para o Cáucaso e a margem norte do Mar Negro (de 600 a 750 de nossa Era), para o leste dos Cárpatos e, finalmente, para a vasta planície (a puszta húngara) no século IX. Nesse ponto, levavam uma vida de pilhagens e ataques, como seus parentes hunos, ameaçando regiões do Império Romano-Germânico, da França e até mesmo dos Pirineus! Tal era sua fama como agentes de destruição que uma famosa oração, datada do final do período das grandes migrações (X a XI d.C.) suplicava: "Senhor, livrai-nos das espadas dos vikings e das flechas dos húngaros".

Essa ascendência fino-úgrica faz do húngaro um idioma singularíssimo, difícil e único. A longa separação dos ramos da família fez com que o húngaro e o finlandês se desenvolvessem individualmente, o que torna uma língua incompreensível para o falante de outra. Chico Buarque, no seu "Budapeste", cita que o húngaro é "a única língua que o diabo respeita". Para os exasperados falantes de línguas indo-européias, o húngaro não dá trégua, com seus palavrões como "egészségére!" (saúde!, como no brinde), "köszönöm szépen" (obrigado) e "illatszerbolt"(farmácia).

Gradativamente, porém, os belicosos húngaros se assentaram em nação mais condizente com o estado de seus vizinhos e, assim, no Natal do ano 1000, foi coroado seu primeiro rei cristão, o futuro Santo Estêvão (István I), que cristianizou toda a população e deu início à obra de expansão do império magiar. Os húngaros resistiram às tentativas de incorporação pelo Sacro Império Romano-Germânico e pelo Império Bizantino, tendo eles próprios, em contrapartida, conquistado os territórios das atuais Croácia, Sérvia, Bósnia e Bulgária, além de dominar, originalmente, o que seria mais tarde o território da Romênia.

A expansão dos turcos otomanos, porém, representou séria ameaça aos magiares; primeiro, ameaçando seus interesses na península balcânica (Sérvia e Bulgária), depois, no próprio território húngaro. Em 1541, os turcos efetivamente conquistaram a parte central da Hungria, chegando mesmo a invadir Buda, sede do reino. A Hungria independente ficou reduzida a uma porção norte-ocidental, protegida pela Áustria (com a morte do rei Luís II na Batalha de Mohács, travada contra os turcos em 1526, a nobreza húngara cedeu o poder a Ferdinando I da Áustria, da Casa dos Habsburgos), enquanto que o centro se tornava parte do Império Otomano e o leste, disputado por turcos e húngaros, formava o reino da Transilvânia.

Forças austríacas expulsaram os otomanos em 1689, dando início a um processo de gradual fusão entre a Áustria e a Hungria. A despeito da revolta conduzida pelos nobres, liderados por Ferenc Ráckózi (1703-17011), com o intuito de conferir maior autonomia política à Hungria, o processo seguiu inexorável, culminando no juramento de fidelidade dos nobres húngaros à imperatriz Maria Teresa, dos Habsburgos, em 1741. Nova revolução nacionalista eclode em 1848 (inflamada pelo poeta Sándor Petöfi) e, para não perder a irridenta Hungria, a Áustria aceita a conformação de um "Compromisso", que efetivamente cria a monarquia dual e o Império Austro-Húngaro, em 1867. Em seu auge, o Império foi dirigido por Francisco José e Elizabeth, a Sissi imortalizada nos filmes da Romy Schneider, que agradam senhorinhas românticas de idade mais avançada.

Como se sabe, o Império Austro-Húngaro implodiu nos fogos da Primeira Guerra Mundial, iniciada com o assassinato do Príncipe Herdeiro Francisco Ferdinado pelo anarquista Gavrilo Princip, da "Mão Negra", na fatídica Sarajevo. Ao fim da Guerra, o Império derrotado foi desmembrado pelo Tratado de Trianon (1920), pelo qual a Hungria perdeu dois terços do antigo território e mais da metade de sua população. Seguiu-se um período de conturbação política, com uma breve experiência comunista, liderada por Béla Kun, até a estabilização com o governo do Almirante Miklós Hórthy -- almirante de um país sem marinha e sem mar e regente de um reino sem rei (!!!). Hórthy permaneceu no poder até 1944, período em que a Hungria se aproximou da Alemanha nazista, na esperança de reaver os territórios perdidos em 1920. Ocorre aí período trágico na história do país, com a ascensão de grupos fascistas e a deportação e extermínio de cerca de 500 mil judeus húngaros.

Novamente derrotada na Segunda Guerra Mundial, a Hungria cai na órbita da União Soviética e sua Cortina de Ferro. Contudo, o país explode na revolução de 1956, liderada por estudantes, intelectuais e operários. Esmagada por tanques soviéticos, a experiência revolucionária lança ao exterior nova corrente de imigrantes húngaros. O líder do movimento revolucionário, o ex-premiê Imre Nágy foi fuzilado por tropas soviéticas em 1958, após julgamento secreto e arbitrário. Posteriormente, Nágy, tornado herói dos húngaros, mereceu discurso de desculpas do Presidente russo Bóris Iéltsin.

Segue-se um período bastante curioso, sob o governo de János Kádár, conhecido como "comunismo goulash", em que a Hungria torna-se o mais "ocidentalizado" país do Leste comunista. A partir de 1972, o país permite a entrada de investimentos estrangeiros e a propriedade privada é admitida em certo grau. Com o fim do comunismo, em 1989, a Hungria volta-se com todo ânimo para a integração nas estruturas ocidentais, tornando-se parte da OTAN, em 1999, e da União Européia, em 2004.

Essa é, em linhas bem gerais, a história da Hungria. Volto mais tarde, portanto, com imagens e observações sobre o atual estado do país.