terça-feira, agosto 22, 2006

Um diálogo entre blógues - II

CONTINUANDO À TODO vapor com nosso Interblog Dialogue Initiative Operating Template (I.D.I.O.T.), devo admitir que acho estranha a associação do Marcelo entre "medicina" barroca e assepsia. O conceito, para mim, conjura mais imagens que completam as belas pranchas do De Humani Corporis Fabrica (olha o Vesálio aí, gente!) com bizarrices como o orangotango dissecado, que mestre Gaiman tão bem coloca no seu Brief Lives. Lembra também outra coisa que mencionei ao Cid quando conversamos sobre o Falópio: dentre as minhas mais belas recordações de infância e adolescência estão as várias tardes lendo os volumes da coleção "Descoberta do Mundo", da Editora Itatiaia, de Belo Horizonte (ainda existe?), adquiridos por meu pai. Fazia parte da série de doze livros um fascinante volume, de André Senet, sobre o desenvolvimento histórico da medicina e do conhecimento do corpo humano nas heróicas fases da Antigüidade a Pasteur. O livro se chamava "O Homem descobre seu corpo", que fazia excelente par com "O Homem contra os micróbios" -- este, conto de terror sobre a batalha inglória contra nossos microscópicos co-condôminos do planeta, com escaramuças e grandes confrontos como a Peste Negra do século XIV. Havia lá no livrinho o aterrador panorama da doença sendo importada, dos confins da Ásia, para os centros mercantis da Europa, prenunciando a grande mortandade que assolou o continente.

Daí, aos saltos que dá a memória, lembro do belo filme "Restoration" [EUA/Reino Unido. 1995], com Robert Downey Jr. e Sam Neill, e suas visões da Inglaterra pós-cromwelliana assolada pela peste, com doutores embuçados naqueles bizarros capuzes ornitoformes, onde, creio, colocavam-se esponjas embebidas em vinagre, para matar os mortíferos "esporos" da doença, posto que se acreditava no contágio pelo ar. Por isso, a cena dos nobres envoltos em espessos vapores de incenso, tentando, inutilmente, purificar os eflúvios da pestilência.

Nenhum comentário: