terça-feira, julho 11, 2006

De sapos e príncipes

O SER HUMANO (aham!), quando quer, é mesmo um bicho muito esquisito. O jornalista Reinaldo Azevedo (que, sorry, não é o esquisito a quem me refiro e cujo blógue segue arrolado aí nos links, para me facilitar o prazer de lê-lo todas as manhãs) encerrou, no mês passado, as atividades do veículo que o tornou conhecido, admirado e execrado neste país: a revista "Primeira Leitura" e o site homólogo. O que quero comentar é que, dentre as muitas mensagens de apoio e opróbrio recebidas por ele, particularmente após entrevista explicativa ao Obervatório da Imprensa, uma particularmente chamou minha atenção, por motivos que quero expor agora.

Foi nos comentários à entrevista do Observatório. Uma leitora, se bem me lembro, encasquetou de dizer que o que achava insólito no Sr. Azevedo era a aparência. E perguntava, fazendo-se atônita, se aos demais não partilhavam de seu estranhamento diante de figura, como dizia, tão asseada (or words to that effect), sempre tão limpinha e arrumadinha, referindo-se às aparições dele no programa televisivo "Roda Viva", da TV Cultura. Ademais, a cronista da imagem alheia queria, pelo que entendi, insinuar que tal aparência evidenciaria uma tal fixação anal que acomete os proto-capitalistas em tenra idade e prenuncia sua desumana avareza, ou alguma outra platitude freudina desse quilate.

O tempora, o mores! Nos meus verdes anos, certamente fruto de uma era mais bárbara, rasa e menos iluminada dos pre-hominídeos -- e, portanto, ridícula aos olhos blasés dessa malta de coevos --, conceitos como asseio, educação e urbanidade eram coisas que aprendíamos lá na pré-escola, junto com as primeiras letras, como valores que, em certa medida, go hand-in-hand together, não como signos de vícios ou perversões. Mostravam que, não só na escola, mas também em casa, tínhamos pais e mães, mamíferos de sangue quente, que nos amavam (e faziam bolo!) e cuidavam de nós, o que nos separava de víboras e outros bichos que levam às últimas conseqüências essa weltanschauung de "cada um por si e Deus contra todos".

Alas, poor Yorick, a caravana passa e os cachorros ladram, e o mundo vai ficando mais sujo e feio, decerto como os andrajos pediculosos que essa mulher, pelo que entendo, deve querer que usemos para cobrir as vergohas, se tanto.

Será que gente assim, quando abestalhada diante da graça apurada (fico, para ser justo, em exemplos como o refinado, leve e gostoso savoir-vivre de um Fred Astaire ou de um Cary Grant, ou seja, no gênero mais "terreno" da espécie; afinal, seria jogar baixo lançar nomes de fêmeas, já que, "iconicamente", a mulher alça vôos infinitamente mais altos de recompensa estética, tais quais, vá lá, não resisto, uma Audrey Hepburn parafraseando a Vitória da Samotrácia), sente-se meio morlock, sapo nauseabundo, e acha feio aquilo que não é espelho? Claro que não quero, com isso, comparar o jornalista com esses exemplos injustos (bidu!), mas refiro-me, exclusivamente, à questão dos valores, ao que escolhemos como desejável. Sempre achei que era próprio do ser humano buscar superar a condição de golem, de barro animado em que o bafejo de Elohim insufla a vida, mas vejo que me engano.

Lembro-me daquele instante belo d'O Alfaiate do Panamá, do LeCarré, em que o dito diz à esposa que ela o faz querer ser a better person (or words to that effect). Pelo visto, há quem já ache que nos afastamos demais da caverna.

Um comentário:

Anônimo disse...

naaa... terninho bem cortado e cabelo lambidinho é demodé, não é sujeira, é a nouvelle-estétique da assimetria. Menos certinha, mais interessante.

Continuamos nos afastando da caverna, proto-capitalistas-retentivos-anais são muito primitivos.

=)

bisous