terça-feira, junho 14, 2005

Furacão Nothomb

DESDE O INÍCIO DA DÉCADA de 90, a escritora belga Amélie Nothomb (nascida no Japão, de pai diplomata) brinda um público já cativo com uma novela por ano. Invariavelmente, obras-primas que chegam com o furor de tempestades tropicais, plenas de ironia e passagens que cauterizam a memória do leitor com indeléveis imagens de loucura e lucidez, alinhavadas em períodos curtos e cortantes. Acumulam-se no currículo da prolífica escritora ficções, como Hygiène de l’assassin (1992), Mercure (1998) e Robert des noms propres (2002), dentre outros, e uma pseudo-cripto-autobiografia absolutamente impagável, que já inclui os saborosos Métaphysique des tubes (2000), com suas reflexões de 0 a 3 anos de idade (!), Biographie de la faim (2004), cobrindo o período da infância à adolescência, e Stupeur et Tremblements (1999), no qual narra seu retorno ao Japão, em idade adulta, e sua descida aos infernos no mundo corporativo nipônico. Verdadeiramente, a escritura de Nothomb é frenética (conta-se que suas gavetas guardam já quase meia dúzia de novos livros – um baú de tesouros, portanto, a se fiar somente no número de exemplares vendidos na França), o que nada lhe tira em qualidade, originalidade, provocação e – por que não? – entretenimento.

Trecho: "Ce fut alors que je naquis, à l’âge de deux ans et demi, en février 1970, dans les montagnes du Kansai, au village de Shukugawa, sous les yeux de ma grand-mère paternelle, par la grâce du chocolat blanc." [Métaphysique des tubes. Paris: Le livre de poche, 2002. 160p.]