quinta-feira, agosto 13, 2009

Mirabilia Teverensis

HÁ, ENTRE OS muitos epigramas, curiosidades e outros disjecta membra anotados por Ambrósio Canneta, naquele curiosíssimo opúsculo intitulado, com certa jactância, De Rerum Mirabilium ad locum Tevereae, numinosae visionaem, inauditaem creaturam, prodigius mostrum et quod tanta vulgo sapientiae dixi(t) paernosticam dictamen (Roma, 1567), o celebérrimo relato de que, sob o efêmero pontificado de Severino, em data que Norberto de Cuma aponta como julho de 640, pescadores encontraram, nas margens do Tibre, uma tartaruga em cujo casco podia-se apenas vislumbrar os vagos traçados duma grafia inaudita, antediluviana. O animal foi trazido, com pio assombro, aos clérigos da cidade ("cum sancta doctrina et illuminata visio", lemos no afetado estilo de Canneta), que, incapazes de decifrar as runas ali entalhadas, houveram por bem rezar uma missa antes de conduzir o mirífico espécime às mui industriosas cozinhas de São Pedro, onde o casco foi partido e deitado fora, para que a carne pudesse dar sabor à cardinalícia sopa de uma noite estiva qualquer.

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