quinta-feira, fevereiro 09, 2006

"... we band of brothers!"

DEPOIS DE UNS DOIS meses morrendo de vontade de rever a pequena obra-prima que é Henry V [Reino Unido, 1989. Direção de Kenneth Branagh], e de não encontrá-la nas locadoras brasilienses especializadas em títulos "de arte" (!), acabei caindo na tentação de comprar o DVD. Com a shakesperiana fome saciada, cumpre exaltar, neste humilde foro, as (muitas) qualidades da obra!

Em primeiro lugar, a brilhante adaptação, dirigida e interpretada pelo então jovem e quase rechonchudo Branagh, não bastando em sua própria excelência, ainda teve a honra de resgatar o interesse do público pela cinematografia inspirada no bardo de Stratford-upon-Avon. Depois desse filme, vieram à tela prateada interpretações de maior ou menor valor, com variados graus de ousadia ou de purismo canônico - incluindo-se Much Ado About Nothing [Reino Unido/EUA, 1993. Direção de Kenneth Branagh], Othello [Reino Unido/EUA, 1995. Direção de Oliver Parker], Hamlet [Reino Unido/EUA, 1996. Direção de Kenneth Branagh, dentre as várias que povoaram as telas recentemente], Looking for Richard [EUA, 1996. Direção de Al Pacino, sobre os bastidores de uma montagem de Ricardo III], um tal (céus!) de Romeo + Juliet [EUA, 1996. Direção de Baz Luhrmann], ou o mais recente The Merchant of Venice [EUA/Itália/Luxemburgo/Reino Unido, 2004. Direção de Michael Radford]. Isso sem falar (céus!) na oscarizada retratação do próprio Bill Shaxpear (como era engraçada a fluidez do idioma e da grafia de nomes na elizabetana Albion!) apresentada em Shakespeare in Love [EUA/Reino Unido, 1998. Direção de John Madden]. Todos esses filmes, e talvez mais alguns, devem sua existência à exitosa empreitada de Branagh em Henry V.

Uma das grandes sacadas do filme é a simplesmente fantástica, inesquecível e gloriosa presença de Sir Derek Jacobi como "coro"! O venerando ator coloca toda sua preciosíssima elocução do texto original já na abertura, conduzindo a imaginação do tablado teatral para os dias sombrios de mais um capítulo da Guerra dos Cem Anos, quando o jovem rei Henrique V busca fazer seus direitos ao trono de França, cujo direito lhe atesta o arrazoado genealógico e jurídico apresentado pelo Arcebispo da Cantuária, e, depois, levando o espectador para as sucessivas cenas de Southampton (a parte dos traidores, genial!), Harfleur, Agincourt e Paris. No fim, cerrando as portas que abrira na primeira cena, Jacobi (que cara de tio afável ele tem!) pondera sobre como todo aquele espetáculo de lama, suor e sangue acabaria no nada, quando após a morte do glorioso príncipe, as possessões inglesas na França foram perdidas por seus sucessores.

E, entre essas duas tomadas, Branagh conseguiu reunir um cast verdadeiramente estelar, incluindo Dame Judi Dench (como Nell Quickly), Brian Blessed (o brutamontes tio Exeter), o então pirralho e presente Batman, Chris Bale (pajem de Falstaff), Robbie Coltrane (como o próprio Falstaff), Ian Holm (tenente Fluellen), Emma Thompson (princesa Catherine) e Paul Scofield (Charles VI). Desse ninho de téspios da mais fina estirpe fluem as linhas que Shakespeare escreveu! Anoto aqui algumas das mais belas passagens:

1. Do flamígero prólogo do Coro:

O for a Muse of fire, that would ascend
The brightest heaven of invention,
A kingdom for a stage, princes to act
And monarchs to behold the swelling scene!
Then should the warlike Harry, like himself,
Assume the port of Mars; and at his heels,
Leash'd in like hounds, should famine, sword and fire
Crouch for employment. But pardon, and gentles all,
The flat unraised spirits that have dared
On this unworthy scaffold to bring forth
So great an object. Can this cock-pit hold
The vasty fields of France? or may we cram
Within this wooden O the very casques
That did affright the air at Agincourt?
O, pardon! since a crooked figure may
Attest in little place a million;
And let us, ciphers to this great accompt,
On your imaginary forces work.
Suppose within the girdle of these walls
Are now confined two mighty monarchies,
Whose high upreared and abutting fronts
The perilous narrow ocean parts asunder.
Piece out our imperfections with your thoughts;
Into a thousand parts divide on man,
And make imaginary puissance;
Think when we talk of horses, that you see them
Printing their proud hoofs i'th' receiving earth;
For 'tis your thoughts that now must deck our kings,
Carry them here and there; jumping o'er times,
Turning the accomplishment of many years
Into an hourglass -- for the which supply,
Admit me Chorus to this history;
Who Prologue-like your humble patience pray,
Gently to hear, kindly to judge, our play.


Que este vosso humilde escriba tem a ousadia de traduzir, sem os ricos paramentos do metro e da rima, como:

"Ah, por uma ígnea musa que ascendesse
Ao mais brilhante firmamento da invenção!
Um reino por um palco, príncipes para atua
E monarcas para contemplar a comovente cena!
Então poderia o beligerante Harry, digno do nome,
Assumir o porte de Marte; e a seus pés,
Como cães encilhados, iriam a fome, a espada e o fogo
Aguardar seu uso. Mas, perdoai, gentis espectadores,
As toscas almas ignaras que ousaram,
Neste indigno palco, trazer
Tão glorioso tema. Pode esta rinha comportar
Os vastos campos de França? Ou podemos nós confinar
Neste madeirame, ah!, os verdadeiros elmos
Que trouxeram pasmo ao ar de Agincourt?
Ah, perdoai! Pois pode uma canhestra figura
Representar, em pequeno espaço, uma legião;
E deixai que nós, insignificante cifra nesse grande cômputo,
Trabalhemos vossas forças da imaginação.
Imaginai que no amplexo destes muros
Estão agora confinadas duas poderosas monarquias,
Cujas frontes, soerguidas e fronteiriças,
Fende o perigoso e estreito oceano.
Desfazei nossas imperfeições com vosso pensamento;
Em mil partes dividi um único homem,
E fazei potência da imaginação;
Ao dizermos ‘cavalo’, pensai que os vêdes
Premindo na acolhedora terra seus cascos orgulhosos;
Pois é agora vosso pensamento que deve paramentar nossos reis,
E conduzi-los para cá e para lá, saltando no tempo,
E reduzindo o resultados dos muitos anos
Numa hora de ampulheta – por cujo período,
Admiti-me coro desta história;
Que, à guisa de prólogo, pede à vossa humilde paciência,
Com bonomia, ouvir; com indulgência, julgar, nossa peça!"


2. Da resposta do rei Henrique à ofensa do Delfim de França, que zomba do pleito do inglês a ducados franceses enviando a Henrique bolas de tênis, as quais julga mais apropriadas a um monarca que ele, o Delfim, julga pueril e parvo (Ato I, Cena 2, linhas 259-297):

We are glad the Dauphin is so pleasant with us;
His present and your pains we thank you for:
When we have march'd our rackets to these balls,
We will, in France, by God's grace, play a set
Shall strike his father's crown into the hazard.
Tell him he hath made a match with such a wrangler
That all the courts of France will be disturbed
With chases. And we understand him well,
How he comes o'er us with our wilder days,
Not measuring what use we made of them.
We never valued this poor seat of England;
And therefore, living hence, did give ourself
To barbarous licence; as 'tis ever common
That men are merriest when they are from home.
But tell the Dauphin I will keep my state,
Be like a king and show my sail of greatness
When I do rouse me in my throne of France:
For that I have laid by my majesty
And plodded like a man for working-days,
But I will rise there with so full a glory
That I will dazzle all the eyes of France,
Yea, strike the Dauphin blind to look on us.
And tell the pleasant prince this mock of his
Hath turn'd his balls to gun-stones; and his soul
Shall stand sore charged for the wasteful vengeance
That shall fly with them: for many a thousand widows
Shall this his mock mock out of their dear husbands;
Mock mothers from their sons, mock castles down;
And some are yet ungotten and unborn
That shall have cause to curse the Dauphin's scorn.
But this lies all within the will of God,
To whom I do appeal; and in whose name
Tell you the Dauphin I am coming on,
To venge me as I may and to put forth
My rightful hand in a well-hallow'd cause.
So get you hence in peace; and tell the Dauphin
His jest will savour but of shallow wit,
When thousands weep more than did laugh at it.
Convey them with safe conduct. -- Fare you well.


Que, mais uma vez, traduzo:

"Felizes estamos com que o Delfim seja tão amável para conosco;
Por seu presente e por vossos esforços, agradecemos!
Quando tivermos ajustado nossas raquetes a estas bolas,
Jogaremos, com a graça de Deus, uma partida em França
Que derrubará de seu pai a coroa!
Dizei a ele que buscou desafiar tal adversário
Que todas as quadras de França serão tomadas
Com nossa disputa. E que o compreendemos bem,
Como vem ele nos censurar por nossa juventude passada,
Sem fazer caso do uso que dela fizemos.
Nunca havíamos dado valor a este humilde trono da Inglaterra;
E, portanto, cá vivendo, nos entregamos
Ao bárbaro folgar; pois sói ser comum
Que sejam os homens mais alegres quando estão em casa.
Mas, dizei ao Delfim que mantenho minha palavra
E, como um rei, desfraldo minha grandeza,
Ao ascender ao trono de França.
Pois cá despi-me de majestade
E labutei como o jornaleiro,
Mas, lá, hei de erguer-me com tal glória
Que ofuscarei todos os olhares de França,
Sim, cegarei o Delfim quando este nos contemplar!
Sim, dizei ao amável príncipe que sua zombaria
Transformou estas bolas em balas de canhão; e que sua alma
Será fustigada pela pródiga vingança
Que, com elas, há de voar: pois milhares de viúvas
Essa zombaria partirá de seus maridos;
Partirá mães de seus filhos, derrubará castelos;
E muitos que ainda não nasceram
Terão motivos para maldizer o escárnio do Delfim.
Mas, tudo é como Deus quer,
E a Deus apelo, e em Seu nome,
Dizei ao Delfim que venho,
Para vingar-me como puder e para tomar
Em minha justa mão uma justa demanda.
Então, ide daqui em paz, e dizei ao Delfim
Que sua troça saberá a torpitude,
Quando milhares chorarem mais do que riu ele.
Levai-os em segurança. – Passar bem!"

3. E, ainda mais estentórea, da resposta que Exeter traz em embaixada ao rei de França (Ato II, Cena 4, linhas 99-100):

[...]
Therefore in fierce tempest is he coming,
In thunder and in earthquake, like a Jove [...]

Ou seja:

"[...]
Envolto em feroz tempestade ele vem,
Em meio a trovões e terremotos, qual um Júpiter [...]"

e, ao Delfim, traz ele, de Henrique (idem, linhas 117-126):

Scorn and defiance, slight regard, contempt;
And anything that may not misbecome
The mighty sender, doth he prize you at.
Thus says my king: an if your father's highness
Do not, in grant of all demands at large,
Sweeten the bitter mock you sent his majesty,
He'll call you to so hot an answer for it
That caves and womby vaultages of France
Shall chide your trespass and return your mock
In second accent of his ordinance.

"Escárnio e desafio, pouco caso, desprezo;
E tudo o mais que possa não destoar
Do augusto remetente, deseja ele a ti.
Assim diz o meu rei! E se Sua Alteza, o vosso pai,
Acedendo às demandas de meu rei, não
Adoçar a amarga zombaria que vós enviastes a Sua Majestade,
Ele há de dar-te tão extremada resposta por ela
Que mesmo as cavernas e os seguros abrigos de França
Hão de reprovar vossa ofensa e devolver vossa zombaria,
Em consonância com o comando de meu rei."

4. Mas atrás, da férrea sentença pronunciada contra os traidores -- Richard, Conde de Cambridge; Henry, Lorde Scrope de Masham; e o cavaleiro Sir Thomas Gray. Vale lembrar, também nesta cena, o saboroso ardil para enredar os quase regicidas nas teias de sua própria maledicência, quando se propõe a anistiar um súdito que, embriagado, criticara o rei ainda na véspera, a que os três celerados se opõem, instando o rei a não demonstrar tibieza com a clemência -- a mesma clemência que, em vão, buscam extrair dele para si mesmos quando se vêem descobertos em seu intento assassino (Ato II, Cena 2, linhas 162-178):

God quit you in his mercy. Hear your sentence.
You have conspired against our royal person,
Join'd with an enemy proclaim'd and fixed,
And from his coffers
Received the golden earnest of our death,
Wherein you would have sold your king to slaughter,
His princes and his peers to servitude,
His subjects to oppression and contempt
And his whole kingdom into desolation.
Touching our person seek we no revenge,
But we our kingdom's safety must so tender,
Whose ruin you have sought, that to her laws
We do deliver you. Get you therefore hence,
Poor miserable wretches, to your death;
The taste whereof, God of his mercy give
You patience to endure, and true repentance
Of all your dear offences. -- Bear them hence.

Ou, em bom português:

"Que Deus vos acolha em Sua piedade. Ouçam, pois, vossa sentença.
Vós haveis conspirado contra nossa real pessoa,
Aliando-se a nosso inimigo jurado,
E, de seus cofres,
Recebestes o ouro de nossa morte,
Pelo qual venderam vosso rei ao massacre,
Seus príncipes e seus pares à servidão,
Seus súditos à opressão e ao desprezo
E todo o seu reino à desolação.
De vosso crime contra nós, não buscamos vingança,
Mas, devemos, nós, cuidar tanto da segurança de nosso reino,
Cuja ruína vós procurastes, que a suas leis
Vos entregamos. Então, ide daqui,
Pobres desgraçados, para a vossa morte,
Cujo gosto, Deus vos dê, em Sua piedade,
Paciência de enfrentar, e legítimo arrependimento
De vossos crimes. – Levai-os daqui!"

5. E, finalmente, do mais decantado chamado às armas e apologia da amizade castrense já escrito pela pena de qualquer artista, que empresta seus gloriosos versos ao título deste post, proferido diante do campo de Agincourt! Nesta cena, o nobre inglês Westmorland lamenta não ter, nas hostes de Henrique, mais dez mil dos homens que, naquele mesmo dia, descansavam de seus afazeres no solo pátrio. A que Henrique responde (Ato IV, Cena 3, 18-67):

What's he that wishes so?
My cousin Westmoreland? No, my fair cousin.
If we are mark'd to die, we are enough
To do our country loss; and if to live,
The fewer men, the greater share of honour.
God's will, I pray thee, wish not one man more.
By Jove, I am not covetous for gold,
Nor care I who doth feed upon my cost;
It earnes me not if men my garments wear;
Such outward things dwell not in my desires.
But if it be a sin to covet honour,
I am the most offending soul alive.
No, faith, my coz, wish not a man from England.
God's peace, I would not lose so great an honour
As one man more, methinks, would share from me
For the best hope I have. O, do not wish one more.
Rather proclaim it presently through my host
That he which hath no stomach to this fight,
Let him depart. His passport shall be made
And crowns for convoy put into his purse.
We would not die in that man's company
That fears his fellowship to die with us.
This day is called the Feast of Crispian.
He that outlives this day and comes safe home
Will stand a tip-toe when the day is named
And rouse him at the name of Crispian.
He that shall live this day and live t'old age
Will yearly on the vigil feast his neighbours
And say 'To-morrow is Saint Crispian.'
Then will he strip his sleeve and show his scars
And say, 'These wounds I had on Crispin's day.'
Old men forget; yet all shall be forgot,
But he'll remember, with advantages,
What feats he did that day. Then shall our names,
Familiar in his mouth as household words --
Harry the king, Bedford and Exeter,
Warwick and Talbot, Salisbury and Gloucester --
Be in their flowing cups freshly remember'd.
This story shall the good man teach his son,
And Crispin Crispian shall ne'er go by
From this day to the ending of the world
But we in it shall be remember'd,
We few, we happy few, we band of brothers.
For he to-day that sheds his blood with me
Shall be my brother; be he ne'er so vile,
This day shall gentle his condition.
And gentlemen in England now abed
Shall think themselves accursed they were not here,
And hold their manhoods cheap whiles any speaks
That fought with us upon Saint Crispin's day.

Que traduzo assim:

"Quem deseja isso?
Tu, meu primo Westmoreland? Não, bom primo!
Se estamos marcados para morrer, somos já muitos
Para fazer falta a nosso país; e, se para viver,
Quanto menos homens, maior a nossa glória!
Por Deus, peço-te: não deseje um só homem a mais!
Por Júpiter! Não sou homem de cobiçar ouro,
Nem me importo com quem come às minhas custas;
Não me amola que vistam as minhas roupas;
Tais coisas materiais não estão nos meus desejos.
Mas, se pecado for cobiçar a glória,
Então sou a mais criminosa alma vivente.
Não, meu primo, não desejai um só homem da Inglaterra.
Por Deus, eu não suportaria perder tamanha glória
Que um homem a mais, penso, tiraria de mim
Por melhor que para mim seja. Ah, não desejai um só a mais!
Ao contrário, ide e dizei à minha hoste
Que, aquele que não tiver estofo para essa luta,
Deixai-o partir. Seu salvo-conduto será expedido
E coroas para a viagem serão colocadas em sua bolsa.
Não queremos morrer na companhia daquele
Que teme morrer conosco.
Hoje é Dia de São Crispim!
Aquele que sobreviver a este dia, e retornar em segurança à casa
Erguer-se-á quando este dia for mencionado
E se exaltará ao nome de Crispim!
Aquele que viver este dia e chegar a provecta idade
Irá, todos os anos, na véspera desse dia, dar de cear a seus vizinhos
E dirá: ‘Amanhã é Dia de São Crispim’.
Ele então despirá a manga e mostrará suas cicatrizes
E dirá: "Estas feridas, tomei-as no Dia de São Crispim’.
Os velhos esquecem, mas nem tudo será esquecido,
Pois ele se lembrará, muito bem,
Dos feitos que realizou naquele dia. Então, serão nossos nomes
Familiares em sua boca como parentes próximos:
Harry, o rei; Bedford e Exeter;
Warwick e Talbot; Salisbury e Gloucester –
Serão, em meio a taças cheias, relembrados!
Esta história o bom homem ensinará a seu filho,
E o nome de São Crispim jamais será lembrado,
Deste dia até o final dos tempos,
Sem que nele sejamos relembrados,
Nós, poucos; nós, poucos e felizes; nós, bando de irmãos!
Pois aquele que hoje verter o seu sangue comigo
Será meu irmão; por mais vil que seja
Este dia há de aliviar sua condição.
E os gentis-homens que agora dormem no leito, na Inglaterra,
Julgar-se-ão amaldiçoados de não estar aqui,
E duvidarão da própria masculinidade quando alguém disser
Que lutou conosco no Dia de São Crispim!"

Claro que, além dessas, há outras cenas com o poder de gravar-se a fogo em nossos neurônios, tais como o enforcamento do velho Bardolph; as parlamentações com o digno arauto francês; a ígnea ameaça de Henrique ao povo de Harfleur; a vigília nos dois acampamentos às vésperas da batalha de Agincourt, quando Henrique, anônimo, ouve o desassossego de suas tropas e ora ao Senhor dos Exércitos pelo resultado do dia que raia; a lição de inglês da princesa Catherine, e por aí vai...

Como resultado, só confirmamos que o velho Shakespeare sabia preparar uma mistura explosiva com suas palavras de ouro! Palavras que o bom Kenneth Branagh teve o bom senso, a fineza, a ousadia e a esperteza de repetir, quase que verbatim, e com bela dicção, em seu Henry V! Claro que sempre há quem queira conduzir debate para a querela da "melhor versão" -- se essa ou a que Sir Laurence Olivier fez sob encomenda do governo britânico, como parte do esforço de mobilização patriótica para a Segunda Guerra Mundial, em 1944. Mas, infelizmente, o artificialismo do technicolor e da interpretação pesadamente teatral me afastam dessa que é, seguramente, outra obra-prima.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bem, me empresta o filme quando eu voltar?

PS: Para posts enormes, favor fazer entregas semanais, em fascículos!