AINDA NA SÉRIE das anedotas histórico-mitológicas coligidas para deitar lume aos espíritos embuçados na treva que ora grassa, qual sombras tomadas às hostes de Plutão, vai esta simpática historinha sobre a necessidade de ater-se cada qual a seu quinhão de experiência ou conhecimento:
Viveu na corte de Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), um célebre e talentoso pintor, de nome Apeles. Ocorre que, a despeito de sua virtuosística técnica pictórica, o bom Apeles era sujeito humilde, cioso das críticas e reparos que porventura fizessem de sua obra. Costumava, por isso, esconder-se perto dos trabalhos em exposição, a fim de bisbilhotar os comentários feitos à sua arte. Certo dia, um concidadão que vivia do ofício de sapateiro criticou, certamente com conhecimento de causa, o calçado de uma figura retratada em pintura de Apeles. De seu esconderijo, o artista ouviu a fala e houve por bem corrigir o detalhe.
Qual não foi, porém, a surpresa de Apeles ao constatar, no dia seguinte, que o tal sapateiro, vendo o trabalho refeito e, em conseqüência, julgando-se autorizado pelo reconhecimento de sua "reputada" opinião no mundo das artes, punha-se a criticar outras partes da pintura! Aí também já é demais! Apeles saltou de seu esconderijo e, certamente com o dedo em riste, passou sabão no abusado: "Sutor, ne supra crepidam!", teria dito ele (se falasse latim...) -- ou seja, "sapateiro, não vá além das sandálias!"
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