SEM RECEIO DE PARECER pedante e resmungão (que, de fato, sou, aliás), penso no quão triste é o desaparecimento de certo verniz clássico que impede, ou dificulta, a apreciação de construtos frasais que costumavam pontilhar a escritura d’antanho. Refiro-me, especificamente, às fórmulas metafóricas extraídas de episódios míticos ou históricos do mundo greco-romano, freqüentemente elegantes e eficazes alusões a seres e fatos mais próximos de nosotros. À (possível) exceção de um ou outro exemplo mais repisado e vulgarizado ("trabalho de Sísifo", "espada de Dâmocles", "caixa de Pandora", etc), caem em ouvidos moucos um vasto número de congêneres, como "leito de Procusto", "banquete de Lúculo", "fidelidade de sátrapa", "túnica de Djanira", "cão de Ulisses", e por aí vai. Devia ser boa a época em que se escrevia isso nas escolas (como diria o Francis, "no tempo em que se escrevia nas escolas"), ou em que com tais frases se dourava um discurso e os amigos entendiam...
Pense bem, houve até quem (Voltaire, dizem) tivesse o espírito fino e mordaz de emendar o pretensioso dístico de Pico della Mirandola que serve de epígrafe a este modesto blógue — de omni re scibili (ou seja, "sobre tudo o que se pode conhecer/saber") et quibusdam aliis ("e mais algumas coisas")!
Mas, como gostavam de pontificar os monges de Eco, nossos pais eram gigantes, somos uns anões e o mundo caminha, célere e bobo, para a dissolução e o nada.
Um comentário:
e voce, obviamente, vai satisfazer nossa curiosidade contando as historias por tras das expressoes que voce pretende reintroduzir (uia!), nao eh mesmo?
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